O conceito do Dia 1 da Amazon
Ouça este texto no meu podcast:
Começar um negócio é um misto de várias sensações. Eu não sei você aí, mas eu já tive a oportunidade de criar um negócio próprio e sentir na pele tudo quanto é sensação diferente ao abrir uma empresa.
Sei lá, é uma coisa meio “vou dominar o mundo” com um determinado sonho alinhado ao “ganhei meu primeiro cliente” depois de muito trabalho. A magia do sonho grande com a premissa do trabalho duro, misturado com a imprevisibilidade, é a composição de comportamentos que mais me fez crescer como profissional até hoje e não me arrependo.
Essa história não rende livros nem palestras de impacto, mas prometo que uma hora dessas eu tiro um podcast aqui só para falar mais sobre a minha empresa de educação que fundei há pouco mais de 5 anos e que me rendeu o meu MBA da vida real.
Mas continuando aqui, abrir um negócio próprio é desafiador e excitante ao mesmo tempo. É o tipo de sentimento que você sente quando começa algo em que você realmente acredita. E é justamente no começo que esse pico tende a ser ainda mais forte pra você.
O texto de hoje fala deste momento de excitação que todo empreendedor(a) passa no começo da sua história. Momento em que Jeff Bezos, o segundo homem mais rico do mundo e CEO da Amazon, chama de Dia 1. E é sobre isso que vim falar por aqui.
Para começar essa história toda, deixo aqui algumas perguntas que serviram para que Bezos e sua equipe pudessem refletir sobre o desafio do Dia 1:
- Com um sentimento tão excitante e desafiador desta forma, como você consegue manter tamanha sensação de curiosidade e motivação por mais tempo?
- Como esse sangue pulsante nas veias possa continuar servindo como um combustível inabalável para os desafios futuros?
- Como manter a agilidade nas operações enquanto você precisa crescer mais e mais todos os dias?
- Como poderíamos manter o espírito empreendedor sempre aceso?
Todas as respostas para essas (e outras) perguntas são capazes de transformar uma breve iniciativa incerta em algo com alto potencial de crescimento.
E todo negócio com alto potencial de crescimento é sustentado por uma cultura organizacional que o sirva como base para essa toda essa ascensão. Jeff Bezos traz isso registrando nos seus princípios de liderança na Amazon e nas citações das suas consagradas cartas aos investidores desde o início da empresa, há mais de 25 anos.
Toda essa composição parte da natureza de um pequeno negócio e seu crescimento nos primeiros anos. Um comportamento típico de uma empresa que está começando.
E assim, vem a intenção de combinar o melhor dos dois mundos: unir a energia e a paixão de toda uma equipe que está construindo um novo negócio com as vantagens de uma operação com ganhos em escala, alcance e impacto.
No livro, O Sistema Amazon, do autor Ram Charam, traz algumas premissas que fazem da empresa conseguir (ou buscar conseguir) manter esse ambiente sustentando a premissa do Dia 1. Resumidamente, são elas:
- Obsessão verdadeira pelo cliente.
- Resistir a aproximações.
- Acolhimento de tendências externas.
- Tomada de decisões em alta velocidade.
O item 1, sobre o foco nos clientes, é o primeiro da lista não por acaso. São diversos negócios criados desde a sua fundação que a transformam em uma empresa extremamente diversificada mas sempre com a intenção de atender os clientes como base central da suas decisões.
Ou seja, essa grande variedade de serviços serve, também, para sustentar o volume de dados que seus consumidores geram, criando ainda mais oportunidades para a Amazon ofertar produtos e serviço de acordo com as suas necessidades, mesmo que seus clientes sequer saibam que precisam daquilo.
Anote aí alguns exemplos dessa variedade de negócios da Amazon: a inteligência artificial Alexa, o dispositivo Echo, o Kindle, serviço de armazenamento AWS, o serviço de entrega da Amazon Prime, as lojas físicas da Amazon Go, e assim vai…
“A ideia central da Amazon é imaginar uma nova experiência do cliente, que poderia se tornar uma fatia de mercado muito grande e uma enorme oportunidade econômica, e imaginar uma nova maneira de prover e personalizar essa experiência”, Jeff Bezos.
O que ele e a Amazon estão querendo dizer com tudo isso é que, ao crescer, a maioria das empresas costumam perder a velocidade, a agilidade e a vitalidade que as alimentaram nos seus dias iniciais de vida.
Com um perfil extremamente insatisfeito, seu modelo de gestão é buscar elevar o patamar da empresa o tempo todo. Colocando o cliente sempre no topo das prioridades da empresa, é assim que a Amazon busca colocar seu olhar inovador como o principal motivo para o seu desempenho no mercado.
Pensa o seguinte: a Cultura do Dia 1 da Amazon é tanto um resultado quanto um facilitador que a empresa conquistou nos últimos 25 anos.
Ou seja, esse espírito do Dia 1 tem sido a estrela-guia que constantemente mantém a Amazon concebendo um modelo de negócios obcecado pelo cliente (fundamento 1), cultivando um aumento contínuo do nível de exigência do talento (fundamento 2), construindo um sistema movido por dados e métricas gerados por Inteligência Artificial (fundamento3), criando uma máquina de intervenções inovadoras (fundamento 4) e construindo um mecanismo de tomada de decisões em alta velocidade e de alta qualidade (fundamento 5).
Longe de mim querer defender os caras e acreditar que essa mentalidade de bilionário seja a salvação para a minha equipe ou para a minha empresa. Eu mesmo já citei a Amazon em alguns podcasts por aqui como uma empresa cheia dos problemas com essa visão insatisfeita de Jeff Bezos.
Fica o meu convite para você ouvir — episódio 11, quando eu falei sobre a GIG Economy e o episódio 06 sobre o Lado B do case de sucesso da Amazon.
E para finalizar, quando perguntado sobre “como é o Dia 2?”, Bezos logo responde: “é estases, estagnação, seguido pela irrelevância e pelo declínio, pela falência.” Ele aponta que o Dia 2 poderá levar a empresa à “complacência, burocracia e a interdependência que borram as linhas da prestação de contas”.
E esse é o porque da Amazon sempre focar no Dia 1.